RS registra mais de 1,9 mil casos de violência sexual contra crianças e adolescentes em 2022

Veículo: Globo.com - BR
Compartilhe

Em 2022, os serviços da rede de saúde do Rio Grande do Sul já registraram 1.908 notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes. Os dados do Núcleo de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, ainda são preliminares. Porém, mostram que a maior parte dos abusos acontece com meninas, com idades entre 10 e 19 anos.

O levantamento revela ainda que, em 60% dos casos, os suspeitos são familiares, amigos ou conhecidos, e em 70%, os abusos acontecem em casa.

Além disso, em mais da metade dos casos, as vítimas são submetidas aos abusos de forma repetida por vários anos. O agressor costuma ser alguém do círculo de confiança, como um parente, um amigo ou um conhecido da família. Em muitos casos, os responsáveis pelo sustento da casa.

O delegado Pablo Rocha, titular Delegacia de Proteção a Criança de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, conta que testemunhou casos em que os episódios de abuso duravam anos.

“Teve um caso que a criança foi abusada dos 15 até os seus 20 anos de idade, repetidamente. É uma vida sob tortura”, compara.

Crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual demonstram as violências no próprio comportamento, ainda que de forma silenciosa, explica a pediatra Maria de Fátima Gea. Para a coordenadora do Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil, as famílias devem ficar atentas a esses sinais.

“Se a gente tem, por exemplo, uma criança que começa a ter regressão na escola ou ficar mais agressiva, ansiosa, deprimida, adolescentes que se isolam. O adolescente quer sair com os amigos, se divertir. No momento que se isola, a menina começa a usar roupas mais fechadas, que não mostre o corpo, poder observar, são os principais indícios de que essa criança ou adolescente está passando por situação de angústia ou sofrimento”, explica.

‘Dentro do carro, escondido’

Em Canoas, uma criança de sete anos relatou à Polícia Civil os abusos que sofria. Conforme o depoimento, eles aconteciam sempre dentro do carro, de forma escondida, no caminho para a escola, sob ameaças frequentes, e alertas para que “não dessem bobeira para a polícia”.

“Essa menina foi ficando cada vez mais angustiada com isso, começou a demonstrar o desejo de não ir mais ao colégio. ‘Não quero ir para o colégio, não quero ir para o colégio’, e a mãe não conseguia entender. Ela pediu para a filha conversar com a pastora da igreja, para a pastora ver o que estava acontecendo, e a pastora, com maior sensibilidade, conseguiu conversar com essa menina e nos procurou na delegacia”, relata o delegado Pablo Rocha.

Quando a vítima retornava da escola com o suspeito, um idoso de 66 anos, ele parava o carro em locais ermos, que não eram vigiados, e mantinha relação sexual de mais de uma maneira. O abusador era da confiança da família, responsável por levar e buscar a criança na escola todos os dias. Ele está preso.

“Ele responde não só pelo estupro de vulnerável, mas também a produção e manutenção de material pronográfico de criança e adolescente. Ele conseguia orientar essa menina a produzir esse material pronográfico. Ele falou para ela não enviar, manter no celular. Quando ele levava ela no colégio, na volta, ele entrava na casa dela, pegava o celular, mandava de um para o outro, e já excluía. Ele tem preocupação já com uma possivel produção de prova contra ele”, relata o delegado.