Trabalho infantil deixa crianças e jovens em risco

Veículo: Correio Braziliense - DF
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A cada mês, o Brasil perde duas crianças em consequência de acidentes de trabalho. Na década de 2007 a 2016, 204 jovens de 5 a 17 anos morreram enquanto trabalhavam, 14 deles só no ano passado. Isso sem contar os 22.721 que se machucaram gravemente, mas sobreviveram, na mesma década. Os dados, do Sistema Nacional por Agravos de Notificações (Sinan), do Ministério da Saúde, mostram que, só no estado de São Paulo, foram 12.163 casos de acidente de trabalho infantil na última década, o maior número do país, quase 10 vezes mais que a região Centro-Oeste inteira junta (1.531).

Por vários fatores, quem começa a trabalhar precocemente tem até quatro vezes mais chances de se acidentar do que adultos em idade produtiva, alertam especialistas. Segundo Isa Maria Oliveira, secretária executiva do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Fnpeti), os números dão um panorama da grave situação, mas é possível que sejam ainda maiores, levando em conta que nem todos os casos são registrados. 

Por meio de fiscalização, o ministério consegue descobrir acidentes envolvendo ocupações como atendentes de lanchonete, embaladores de compras, repositores de mercadorias, vendedores e trabalhadores agropecuários, mas não entram na contagem os acidentes decorrentes de trabalhos ilegais, como tráfico de drogas e exploração sexual, nem de serviços domésticos realizados por membros da família, por exemplo.

Os dados mostram que 18 crianças se acidentam todos os dias enquanto trabalham, resultando em traumatismos, ferimentos e até amputações de membros. Esses acidentes poderiam ser evitados se as pessoas fossem conscientes dos danos causados pelo trabalho infantil. O problema é que muita gente ainda escolhe ignorar que crianças e adolescentes não têm condições de trabalhar e, com corpos ainda em desenvolvimento, são vítimas mais fáceis de acidentes que podem resultar em deformações e problemas de crescimento. Além disso, os pulmões têm menos ventilação, e os mais jovens absorvem mais substâncias tóxicas, de acesso muito comum em fazendas e em trabalhos domésticos. A pele, por ser mais sensível, também rende mais problemas como alergias e feridas.

Sequelas

As lesões resultam em sequelas que acompanham os trabalhadores por toda a vida, restringindo a capacidade laborativa e comprometendo a qualidade de vida. Em outras palavras, quanto mais cedo essas pessoas começam a trabalhar, maiores as chances de que elas não tenham como manter empregos no futuro. “As crianças gastam a força de trabalho delas, se acidentam mais e, na idade produtiva, já não têm o mesmo rendimento que os concorrentes”, explica a ministra Kátia Magalhães Arruda, do Tribunal Superior do Trabalho (TST), coordenadora do Programa Nacional de Combate ao Trabalho Infantil da Justiça do Trabalho.

Para identificar esses casos, o ministério atua em parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS). Quando as crianças vão buscar atendimento médico, após se acidentarem, os funcionários verificam sinais que permitem supor que ela estava trabalhando quando sofreu o acidente. Por exemplo, uma criança que tenha restos de cimento ou tinta na roupa, esteja de uniforme de trabalho,  entre outros casos. Embora seja bem sensível, a lista do ministério da Saúde não inclui trabalhos domésticos exercidos no âmbito da própria família, como decorrentes de preparo de alimentos, limpeza da casa ou cuidados com as roupas, o que poderia aumentar bastante os números.