Vacinação infantil recua a números de 30 anos atrás

Veículo: Revista IstoÉ - SP
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Reconstruir o Sistema Único de Saúde e conter a queda na taxa de vacinação infantil, a menor dos últimos 30 anos, são pontos cruciais para a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Há outros estragos, mas o desafio será criar um plano de reestruturação do Ministério da Saúde. A dificuldade para tal se inicia com o orçamento para 2023, que será de R$ 149 bilhões — R$ 22 bilhões a menos em relação a 2022. O cenário é difícil, com piora nos números de mortalidade infantil e materna, por exemplo. Além de retrocesso em questões como o da imunização infantil. De acordo com pesquisa feita pela Organização Mundial da Saúde, a taxa de vacinação infantil no Brasil caiu de 93,1% para 71,5% entre 2019 e 2021.

“A OMS já fez o alerta de que o Brasil tem altíssimo risco para reintrodução da poliomielite. A situação é gravíssima”, aponta Adriano Massuda, professor do FGVSaúde e médico com doutorado em Saúde Coletiva. Nessa realidade, crianças estão expostas a doenças que não deveriam mais ser preocupantes, como sarampo, rubéola e difteria. No mês passado, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo vacinou cerca de 30 mil pessoas contra meningite meningocócica para abrandar um surto na cidade. Para o próximo ano, um aumento do orçamento e investimentos são urgentes, mas a população carece de uma atenção que não teve no atual governo: a empatia do presidente.

“A nova gestão tem condições de enfrentar os desafios”, considera Massuda. A começar pela postura de Lula e de Geraldo Alckmin, seu vice-presidente. “Além de toda a experiência política, Alckmin é médico e tem sensibilidade para o assunto”. Nesse panorama, o SUS requer um plano de médio e de longo prazo de fortalecimento. “Trabalho tanto em UBS como em pronto-socorro de hospitais públicos, e o que mais falta são insumos, medicamentos, materiais cirúrgicos e estrutura adequada para exames laboratoriais”, relata o médico Jadson Lener, formado pela Faculdade Integral Diferencial, no Piauí.

É essencial também uma atualização de mentalidade. “Precisamos encarar a indústria da saúde como uma indústria de garantia da soberania nacional”, diz Jan Carlo Delorenzi, diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie. “É necessário investir no complexo industrial da saúde, na produção de ingredientes farmacêuticos ativos e de outros insumos para que consigamos garantir um País melhor, soberano e digno para a população”, afirma Delorenzi.