Violência sexual e tráfico humano se alastram após terremoto no Nepal
Na esteira de grandes catástrofes, é comum aproveitadores visarem grupos sociais mais vulneráveis. Após tremor, mulheres e crianças nepalesas são vítimas de estupro e exploradas na prostituição e no trabalho infantil. É época de monções no Nepal, e há semanas chove a cântaros. Muitos ainda se encontram em abrigos de emergência. Milhares de sobreviventes vivem em tendas desde o catastrófico terremoto do fim de abril, enquanto outros pernoitam ao ar livre. O abalo sísmico de 7,8 graus na escala Richter matou ao menos 9 mil pessoas no Nepal e destruiu meio milhão de casas. Segundo estimativas das Nações Unidas, 8 milhões de pessoas foram atingidas pelo desastre o equivalente a um terço da população do país. Enquanto muitos ainda enfrentam os efeitos imediatos do tremor, sobe o número de agressões sexuais nos abrigos improvisados, sobretudo contra meninas e mulheres que perderam as famílias. Num campo de refugiados em Kavre, a cerca de 60 quilômetros da capital Katmandu, houve vários registros de assédio sexual e estupros. "Os agressores vieram da localidade vizinha, estavam bêbados e logo ficaram violentos", conta Preeti Khasla, uma das vítimas. Nas últimas semanas, com outras companheiras de abrigo, ela formou uma espécie de associação de proteção, com o objetivo de defenderem as outras mulheres do acampamento e a si mesmas, mantendo longe os invasores.
Solo fértil para tráfico humano
Não há dados confiáveis quanto ao número de mulheres e meninas que foram sequestradas após o tremor. Organizações humanitárias internacionais informam que, desde maio, cerca de 250 órfãos foram libertados das mãos de traficantes. Antes, o governo central nepalês decretara que menores de 16 anos só poderiam deixar a localidade natal acompanhados dos pais ou com permissão do juizado de menores competente. No entanto, a tropa paramilitar Sashastra Seema Bal (SSB), que coleta informações jornalísticas na fronteira de 1.751 quilômetros entre a Índia e o Nepal, deteve 50 meninos e meninas, presumíveis vítimas do tráfico humano. Em junho, 15 traficantes foram presos ao tentar levar ilegalmente adolescentes para a Índia. As autoridades partem do princípio de que eles seriam utilizados na prostituição e para trabalhos forçados. "Precisamos ficar alertas", comenta o general B.D. Sharma, chefe da SSB. "O controle nas zonas mais críticas foi reforçado." No entanto, após o terremoto, o Nepal oferece solo fértil para traficantes, constantemente em busca de novas vítimas.