Violência velada em grandes clubes de futebol do País

Veículo: Correio Braziliense - DF
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Não só em campinhos do interior do País, quando ser um astro dos gramados ainda é um sonho distante, o drama do abuso sexual está presente. A violência também ocorre em escolinhas e categorias de base da elite do futebol brasileiro. Além do medo de serem mandadas embora de um grande clube, contribui para o silêncio das vítimas o receio de não serem levadas a sério. Poucas denúncias que saem da invisibilidade mostram que o problema existe, a despeito de às vezes ser tratado como folclore. São casos como a denúncia de abuso sexual no Grêmio, que estourou em 2009, quando meninos da categoria sub-13 criaram coragem para reclamar. "A gente falava entre a gente. Ficava pensando se alguém ia acreditar em nós", diz Maurício, um dos meninos.

Silêncio – A abordagem dos abusadores geralmente é a mesma: eles se aproximam e prometem um futuro de sucesso. Famílias acreditam e entregam seus filhos a abusadores. Para especialistas, o medo de não concretizar o sonho faz o silêncio predominar. Favores financeiros estão entre as formas que os abusadores usam para garantir a confiança da família. "A ida para outras cidades, sob a responsabilidade de outros adultos, é preocupante. Não deixa de ser uma forma de agenciamento a busca do menino na periferia de uma grande cidade ou no interior, para dizer que ele vai ser um craque em um time", afirma a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Desproteção – Tão devastadora quanto os abusos sofridos por jovens atletas em categorias de base e escolinhas é a falta de fiscalização e proteção para esses garotos. Sindicatos, Ministério do Esporte e a entidade máxima do desporto no País, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), alegam que o assunto é caso de polícia e não possuem instâncias ou campanhas específicas sobre o tema. A legislação que trata de jogadores até 18 anos é a Lei Pelé, de 1998. Pela norma, os clubes devem oferecer aos atletas: educação, assistência médica, odontológica e psicológica, além de horas de folga e lazer e dispensa para visitar a família. O problema é verificar se os clubes cumprem o que a lei determina.