Vítimas de abusos sexuais na infância decretam o fim do silêncio

Veículo: Jornal de Brasília - DF
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“Eu tinha uns quatro anos e a empregada lá de casa fazia com que eu a masturbasse”, relata a empresária Estela Monteiro, de 26 anos, sobre o primeiro assédio sexual de que se recorda. “Ela falava que era brincadeira, que eu não podia contar para os meus pais. Eu me lembro de uma vez, mas sei que houve outras”, completa. A mulher faz questão de mostrar o rosto. Ela sofreu assédio sexual na infância e decidiu não se calar, assim como várias mulheres que, por meio das redes sociais, manifestaram-se, na última semana, sobre crimes sofridos quando eram crianças. O DF registrou 406 denúncias de abuso sexual contra menores entre julho de 2014 e o mesmo mês em 2015, conforme o banco de dados do Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. No entanto, esse número está longe de representar a realidade, segundo especialistas. A solução esbarra no receio de quem é vítima, nas negativas dos   envolvidos e nas ameaças que o agressor pode fazer para preservar a identidade. O tópico #PrimeiroAssédio mostrou, na rede social, que não existe idade para os crimes acontecerem, e, muito menos, circunstâncias propícias.

Não apenas uma 

Estela Monteiro diz se lembrar de pelo menos outras duas vezes em que foi assediada, todas antes de completar oito anos. “Um funcionário do meu pai passou a mão no meu órgão genital, como se estivesse fazendo cócegas. Eu achava que era brincadeira também, porque ele ria”, conta. Na outra oportunidade, um sujeito de bicicleta tentou tocar na virilha dela. Mas, como ela gritou e ameaçou chamar ajuda, ele fugiu. “Só na adolescência eu fui perceber que essas coisas não eram normais”, diz. A empresária contou tudo aos pais depois de adulta, quando teve coragem – também não queria que eles se sentissem como se tivessem deixado de cuidar dela. “Se mais pessoas mostrarem o rosto,  mais denúncias vão acontecer”, acredita. “Até ter uma filha,  não conseguia mensurar as consequências desses assédios em mim. Depois, passei a ter medo de deixá-la sozinha com outras pessoas”, completa.