Balas Perdidas
(2001)
Realização:
ANDI, DCA-MJ e Amencar. Com apoio do Instituto Ayrton Senna, UNICEF, Conanda, Comissão Europeia e Kindernothilfe
(2,84 MB)
A Marca do Crime
O estudo Balas Perdidas tem como objetivo trazer luzes a duas questões que alimentam enorme perplexidade na sociedade brasileira: de um lado, a violência; de outro, a maneira como a imprensa aborda a violência.
Embora concentre-se nos universos da infância e da adolescência (e estes “atores” são tanto agentes quanto vítimas da violência e da criminalidade) e da imprensa escrita, a presente análise certamente dirá respeito a um espectro que se amplia tanto sobre o comportamento editorial dos principais meios de comunicação do País quanto sobre a compreensão do fenômeno
em todas as suas expressões.
O leitor poderá ficar estarrecido diante da constatação mais do que evidente de que, na imprensa, a violência não é tratada como fenômeno social, mas somente como uma mera sucessão de casos. De muitos casos, aliás, porque multiplicam-se as matérias sobre agressões e crimes, mas num esforço que se reduz a balas perdidas – tão raras são as investigações jornalísticas que tornam plural a visão sobre o fenômeno. Mais estarrecido ainda ficará o leitor se acreditar que a mídia (seus profissionais) reflete exatamente o nível de maturidade da sociedade na compreensão de si mesma.
Do estudo não é difícil concluir que quando o tema em pauta é o desrespeito e a agressão ao patrimônio, à pessoa e à vida, acaba sendo também desrespeitado o direito dos cidadãos (leitores e audiências) à informação qualificada. Neste sentido, são muitas, como se poderá ver, as marcas dos crimes diários cometidos pela imprensa contra o leitor.
Este, na verdade, é o convite que se quer fazer com este estudo: um convite a que não apenas a imprensa, mas também as organizações civis e os poderes públicos repensem seus papéis e sua co-responsabilidade diante do inquestionável desafio de elevar o nível da investigação e da reflexão em torno de uma tensão social que acaba por fazer da vida uma ameaça quando ela
deveria ser celebrada como oportunidade.
Os dados e as conclusões de Balas Perdidas mostram que, para um País que deseja construir melhores indicadores de desenvolvimento humano, de respeito aos direitos da criança e do adolescente e de eficácia da justiça, é anêmico o diálogo que se estabelece entre sociedade civil organizada + poderes públicos + instituições de pesquisa + imprensa em torno da violência.
Este trabalho foi produzido e editado pela ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância, sendo fruto de parcerias com o Ministério da Justiça, a Amencar, o Unicef, o Conanda, a Kindernothilfe e a Comissão Européia. Integra o projeto A Infância e os Jovens na Mídia – uma realização ANDI e Instituto Ayrton Senna.
Devemos, entretanto, o agradecimento pela dedicação com que os consultores técnicos Rui Nogueira (texto) e Guilherme Canela (estatística) mergulharam em centenas de reportagens, milhares de cruzamentos de dados e ricos debates para chegar à análise e às recomendações que apresentamos. Agradecemos também, por idêntica dedicação, aos demais consultores convidados pela ANDI para compor o Grupo de Análise de Mídia sobre o tema violência. E somos especialmente gratos às instituições que solidariamente cederam muito do tempo de seus técnicos para esta realização.
Esperamos, todos, que as reflexões não se transformem numa espécie de “boletim de ocorrência”, mas que possam estar a serviço do aprimoramento da informação e da promoção dos direitos da criança e do adolescente como personagens centrais na pauta do desenvolvimento humano.