Mudanças climáticas na imprensa brasileira
(2010)
Realização:
ANDI e Embaixada do Reino Unido no Brasil
(1,59 MB)
A crise que a humanidade enfrenta atualmente teve suas principais características anunciadas pela ciência há pelo menos meio século. Mesmo assim, o fenômeno não encontrou resposta adequada por parte das forças políticas e econômicas que definem os destinos do planeta. Na base do problema, sabemos todos, se encontra um modelo de desenvolvimento que não incorporou a variável ambiental como prioridade de sua equação.
As mudanças climáticas são, sem dúvida, a manifestação mais grave deste descompasso. E se há maneiras de responder efetivamente e com a urgência necessária à dimensão e à complexidade do desafio apresentado pelo agravamento do fenômeno, elas passam inevitavelmente pela construção de uma nova matriz de desenvolvimento.
Tal tarefa, por certo, não cabe exclusivamente ao setor ambiental. Ela apresenta um nítido perfil de transversalidade, que implica todas as áreas do desenvolvimento humano. E se o comprometimento efetivo dos líderes mundiais com o uso racional de recursos segue ocupando lugar de destaque nessa agenda, não se deve correr o risco de subdimensionar a relevância da participação dos demais setores nos processos de debate e de tomada de decisões, incluídas aí as populações mais vulneráveis aos impactos climáticos.
Obviamente, temos pela frente um processo árduo de construção de consensos, que exige intensa mobilização social e a ampliação dos espaços de discussão. E nesse contexto, em que a comunicação desempenha papel destacado, a ANDI considera pesar sobre o jornalismo uma responsabilidade diferenciada.
São várias as razões que fazem da cobertura jornalística qualificada um fator crucial para que o debate público sobre a temática possa avançar com efetividade. Uma delas é o hermetismo do discurso cientifico sobre as causas do problema e os meios de enfrentá-lo. Outra, a intencional opacidade dos posicionamentos adotados pela maior parte dos agentes governamentais, tanto em nível doméstico quanto nos foros climáticos internacionais. Mas não menos merecedoras de atenção são as abordagens frequentemente polarizadas que se origi- nam de representantes de setores chave, como ONGs ambientalistas e empresariado.
Além da capacidade de disseminar informações contextualizadas sobre as mais diversas vertentes do fenômeno, a mídia noticiosa tem o poder de contribuir para a priorização do tema na esfera pública e para a fiscalização tanto das ações, programas e políticas de foco climático quanto do desempenho dos responsáveis definição e implementação de tais medidas.
Consciente de que esta não é tarefa simples, ao longo dos últimos três anos a ANDI vem procurando desenvolver ferramentas de apoio aos meios de comunicação brasileiros no que se refere à cobertura das mudanças climáticas. Entre elas, destacam-se as leituras analíti- cas do trabalho cotidiano dos jornais de todo o país, realizadas em parceria com a Embaixada do Reino Unido e o Conselho Britânico no Brasil. O monitoramento sistemático de 50 diários ao longo de 42 meses, apresentado nas próximas páginas, permite uma avaliação detalhada dos méritos e dos limites dessa produção editorial. Para além do diagnóstico, acreditamos, estas reflexões mostram-se eficientes balizadores dos processos de qualificação que deveriam ser empreendidos pelos próprios profissionais da notícia e seus meios. E, portanto, podem ser igualmente úteis às fontes de informação que mantém diálogo próximo com as redações.