Caravana Infância e Comunicação na Nicarágua

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O impacto negativo que a concentração de propriedade de meios de comunicação provoca na democracia foi um dos destaques do diálogo travado na Nicarágua, durante as atividades da “Caravana Infância e Comunicação” no país. Promovido pela Dos Generaciones, organização que integra a Rede ANDI América Latina, o debate sobre a relação entre regulação de mídia e liberdade de imprensa provocou grande interesse nos jornalistas locais.

O seminário foi realizado em 09 de outubro último, no Hotel Crowne Plaza, em Manágua, reunindo especialistas, lideranças sociais, agentes de Estado e comunicadores. Além da representante da ANDI – Comunicação e Direitos, jornalista Suzana Varjão, expuseram durante o evento Adrián Uriarte, o comunicador e pesquisador; e Mário Chamorro e Leslie Briceño, respectivamente, diretor e periodista da Dos Generaciones.

“NOTA ROJA”

Adrián Uriarte enfatizou a contradição entre concentração de propriedade de meios e democracia, uma vez que o controle de pólos de emissão de mensagens tende à (re)produção de um único ponto de vista – um problema em ascensão na Nicarágua da contemporaneidade, a partir da tendência crescente de aquisição, pelo governo, de empresas de comunicação de massa no país.

O acadêmico defendeu, ainda, a completa erradicação da “nota roja” (narrativas sobre violências e criminalidades, ou “policialescas”), que, em lugar de contribuirem para a segurança pública, “reforçam demasiadamente a violência”. E conclamou a sociedade civil e as universidades à construção de uma agenda comum, que propicie o aprofundamento e a ampliação do debate sobre a democratização da comunicação.

MONITORAMENTO

Em seguida, Leslie Briceño brindou os participantes do seminário com os dados de um monitoramento de mídia realizado pela Dos Generaciones. Focada no noticiário sobre adolescentes em conflito com a lei, a análise expõe, de modo claro, objetivo e inequívoco, a relação entre o modo de construção da notícia e a mentalidade social sobre determinadas problemáticas.  

A análise ocorreu em três momentos distintos, incidindo sobre narrativas relacionadas a três diferentes ocorrências criminais envolvendo adolescentes. E demonstrou como o noticiário factual favorece reações emocionais, ao contrário das narrativas contextualizadas, que propiciam maior reflexão, refreando, por exemplo, as propostas de diminuição da maioridade penal como solução para o enfrentamento deste complexo fenômeno.

LANÇAMENTO

Como ocorreu na Bolívia, na Guatemala e em Costa Rica, Suzana Varjão proferiu a palestra "Derechos de la niñez y derecho a la comunicación: ¿cómo armonizarlos?", apresentando dados da publicação “Derechos de La Infancia y Derecho a La Comunicación”, que registra um panorama mundial sobre a interface em foco, reunindo experiências desenvolvidas por nações democráticas, na perspectiva de coibir violações e promover os direitos desses grupamentos.

Além dos temas registrados no livro, foi compartilhada a tecnologia social desenvolvida pela ANDI, em conjunto com outras organizações sociais do Brasil, como o Intervozes e a Artigo 19, para contribuir com o enfrentamento de um fenômeno midiático que vem violando direitos humanos e discursando contra a democracia brasileira: os programas de rádio e TV conhecidos como “policialescos”.

A CARAVANA

A “Caravana Infância e Comunicação” é uma iniciativa da ANDI – Comunicação e Direitos e das redes ANDI Brasil e ANDI América Latina, e tem como objetivo debater temáticas e estratégias relacionadas à defesa e promoção de direitos no campo da comunicação de massa. Foi estruturada a partir de amplo trabalho de investigação, que mapeou experiências desenvolvidas por países democráticos em diferentes partes do mundo.

Os insumos construídos foram reunidos no livro “Direitos da Infância e Direito à Comunicação”. Traduzida para o inglês e para o espanhol, a publicação foi lançada inicialmente em 10 capitais brasileiras, e, agora, estimula o debate em seis países da América Latina. Depois de passar ter passado pela Bolívia, pela Guatemala, pela Costa Rica e pela Nicarágua, a “Caravana” segue para o Uruguai e o Paraguai.

A “Caravana” é patrocinada pela Petrobras e recebe apoio de diferentes organizações, nos países por onde passa.

 

Confira também os relatos da Bolívia, Guatemala, Costa Rica, do Paraguai e Uruguai.