Desmatamento na Mata Atlântica cresce 66% em um ano

Desmatamento na Mata Atlântica cresce 66% em um ano

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Entre 2020 e 2021 foram desmatados 21.642 hectares (ha) da Mata Atlântica, um crescimento de 66% em relação ao registrado entre 2019 e 2020 (13.053 ha) e 90% maior que entre 2017 e 2018, quando se atingiu o menor valor de desflorestamento da série histórica (11.399 ha). A perda de florestas naturais, área em que caberiam mais de 20 mil campos de futebol, corresponde a 59 hectares por dia ou 2,5 hectares por hora, além de representar a emissão de 10,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera.

As informações são do Atlas da Mata Atlântica, estudo realizado desde 1989 pela Fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), lançado na quarta-feira, 25 de maio, dois dias antes da data em que é celebrado o Dia Nacional da Mata Atlântica (27/5).

Acesse aqui o Atlas da Mata Atlântica (2020-2021)

Em relação ao período anterior, apenas dois estados apresentaram queda no desflorestamento. Cinco acumulam 89% do desflorestamento verificado: Minas Gerais (9.209 ha), Bahia (4.968 ha), Paraná (3.299 ha), Mato Grosso do Sul (1.008 ha) e Santa Catarina (750 ha). O aumento foi registrado inclusive em estados que estavam se aproximando do fim definitivo do desmatamento, como São Paulo, Rio de Janeiro, Sergipe e Pernambuco, revertendo uma trajetória de alguns anos. Alagoas, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte tiveram desflorestamento menor que 50 hectares, porém, por serem regiões constantemente cobertas por nuvens, o que restringe a observação via satélite, não se pode afirmar categoricamente que estão em situação de desmatamento zero.

Diretor de Conhecimento da SOS Mata Atlântica e coordenador do Atlas, Luis Fernando Guedes Pinto explica que o aumento do desmatamento sobre um patamar já inaceitável de perda da vegetação nativa da Mata Atlântica mantém o bioma em um alto grau de ameaça e risco. “É um problema que afeta todo o país e impacta diretamente a sociedade, pois 70% da população e 80% da economia brasileira se concentram na região. Se as derrubadas persistirem, vai faltar água, vai faltar alimento, vai faltar energia elétrica É uma ameaça à vida, um desastre não só para o Brasil como para o mundo, pois importantes referências internacionais apontam a Mata Atlântica como um dos biomas que precisam ser restaurados com mais urgência para atingirmos a meta de redução de 1,5°C de aquecimento global estabelecida no Acordo de Paris. Mas estamos percorrendo o caminho oposto, em direção a sua destruição.

Embora o Atlas não tenha o propósito de investigar a legalidade dos desmatamentos detectados, é importante ressaltar que a vegetação nativa do bioma é protegida pela Lei da Mata Atlântica. Segundo Guedes Pinto, é possível dizer que o bioma vem sendo devastado atualmente, acima de tudo, para dar lugar a pastagens e culturas agrícolas. A pressão da expansão urbana e da especulação imobiliária, principalmente em torno de grandes cidades e no litoral, também pode ser apontada como uma das causas.

A verificação da confirmação da ilegalidade é comprometida pela pouca transparência e pequena disponibilidade de dados dos governos estaduais a respeito das autorizações de desmatamento. A disponibilização desses dados é fundamental para que se possa avançar para o desmatamento zero na Mata Atlântica com a velocidade necessária para contribuirmos para a urgência da emergência climática e garantirmos a provisão dos serviços ecossistêmicos”, afirma o diretor. Ele reforça que as informações levantadas pelo Atlas são oferecidas às autoridades públicas para que verifiquem a legalidade dos desmatamentos detectados e tomem as devidas medidas de fiscalização e punição. “O respeito à Lei da Mata Atlântica e ao Código Florestal são os primeiros passos para começarmos a reverter essa situação crítica”, completa.

O aumento do desmatamento na Mata Atlântica vem junto com os dados Prodes-INPE, que mostraram que o desmatamento da Amazônia em abril de 2022 foi o maior dos últimos 15 anos. Estas notícias chegam para o Brasil e para o mundo após o país se comprometer a acabar com o desmatamento até 2030 na COP 26, em Glasgow, em novembro do ano passado, enquanto pleiteamos ser parte da OCDE e negociamos um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul tendo o fim do desmatamento como uma das condições básicas para o compromisso. Acabar com o desmatamento é condição para recuperarmos a nossa credibilidade internacional.

O Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica é uma colaboração entre a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) iniciada em 1989 com o objetivo de determinar a distribuição dos remanescentes da Mata Atlântica, monitorar as alterações da cobertura vegetal e gerar informações permanentemente atualizadas sobre o bioma. Foi um projeto pioneiro para monitorar a situação da vegetação nativa de um bioma no Brasil.

Desde então, a análise avalia a conservação e o desmatamento da área de remanescentes de vegetação nativa acima de três hectares de todo o bioma. O mapeamento abrange o território dos 17 Estados definidos no Mapa da Área de Aplicação da Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428 de 2006), que, publicado pelo IBGE em 2008, contempla a configuração original das formações florestais nativas e dos diversos ecossistemas associados do bioma. Nesta edição, as imagens de satélites da família LANDSAT utilizadas anteriormente foram substituídas por imagens Sentinel, que permitem aumentar a acurácia das análises.

Restauração da Mata Atlântica

A Fundação SOS Mata Atlântica promove iniciativas que estão entre as que mais contribuem para a restauração do bioma no país, contabilizando cerca de 42 milhões de mudas de árvores nativas plantadas e cerca de 23 mil hectares restaurados em nove estados – uma área equivalente ao território de Recife (PE).

O trabalho de restauração florestal desenvolvido pela SOS Mata Atlântica combina o monitoramento da cobertura de florestas e vegetação natural, produção e plantio de mudas de espécies nativas, estudos e apoio à pesquisa e incidência em políticas públicas. É um trabalho de médio prazo, que só se encerra quando as mudas se transformam em uma floresta jovem com potencial para fornecimento de serviços ecossistêmicos, como a água e regulação climática, e com o retorno da biodiversidade local.

Fonte: SOS Mata Atlântica

 

Temas deste texto: Meio Ambiente - Políticas Públicas