Especialistas orientam sobre redução de riscos de acidentes domésticos com crianças

Especialistas orientam sobre redução de riscos de acidentes domésticos com crianças

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As férias escolares chegaram e são sinônimo de muita diversão para as crianças. Mas com elas em casa, também é hora de redobrar a atenção com os acidentes domésticos como quedas, cortes, queimaduras, afogamentos, engasgos, envenenamentos, entre outros, que podem colocar suas vidas em risco. De acordo com o Ministério da Saúde, os acidentes representam a principal causa de morte entre crianças e adolescentes de um a 14 anos de idade. Mais de 3.300 meninas e meninos morrem por esse motivo e cerca de 110 mil são internados em estado grave. Por isso, especialistas da Fiocruz reforçam orientações a pais e responsáveis para que acompanhem com atenção a rotina das crianças neste período, em que os casos de acidentes aumentam em 25%, segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

“Na maioria das vezes, o acidente não ocorre na frente dos responsáveis ou de um adulto. Por isso, pais e pediatras devem ficar atentos, em especial às crianças menores, para sintomas como dificuldade ou recusa alimentar, engasgos, salivação e sintomas respiratórios, como broncoespasmo e infecção respiratória de repetição”, avalia Paula Peruzzi, médica especialista em endoscopia digestiva pediátrica do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

De acordo com a especialista, a ingestão de corpos estranhos é mais frequente em crianças entre seis meses a seis anos, já que são facilmente levados à boca. As ocorrências mais comuns envolvem objetos encontrados com mais facilidade em casa, como moedas, ímãs, baterias, amendoins e objetos pontiagudos e cortantes.

“Os mais perigosos são as baterias presentes em brinquedos, imãs e objetos pontiagudos e perfurantes. Quando uma criança ingere mais de um imã separadamente, estes podem ser atraídos um ao outro, com a parede intestinal comprimida no meio, por exemplo, causando fistulização, perfuração e obstrução”, explica.

As baterias também são perigosas: se não foram retiradas em poucas horas podem causar complicações graves, como esofagites cáusticas, estenoses, perfurações, fístulas e outros. No entanto, cerca de 70% a 80% dos corpos estranhos passam pelo trato digestório e são eliminados espontaneamente, segundo o manual da SBP.

Intoxicação – A ingestão acidental de produtos de limpeza é outra causa recorrente de acidentes, principalmente em menores de seis anos.  “Esse tipo de acidente é mais comum do que se possa imaginar. As crianças são atraídas pelo líquido colorido e não têm noção do perigo. A ingestão dessas substâncias pode provocar desde queimaduras leves dos lábios ao estômago a lesões graves, algumas vezes irreversíveis, com complicações por toda vida, ou mesmo a morte”, afirma Peruzzi.

A médica destaca ainda que os responsáveis precisam estar atentos às crianças o tempo todo e que o ambiente de casa deve ser pensado para elas também e não apenas para os adultos. “Por isso, substâncias perigosas não podem estar ao alcance de crianças e devem ser guardadas em frascos seguros, de preferência com dispositivos que dificultem sua abertura”. Além disso, ela reforça a necessidade de realização de campanhas e políticas públicas que possam sensibilizar as famílias sobre riscos e sobre as formas de evitá-los.

Quem deixou isso aqui? – Para ajudar a prevenir acidentes por intoxicação doméstica, o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) em parceria com o Polo de Jogos e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), criou o jogo online “Quem deixou isso aqui?!”, voltado para crianças, adolescentes e responsáveis.

O jogador deve cuidar da personagem Aninha, uma criança de três anos, mantendo-a longe de substâncias perigosas, como remédios, produtos de limpeza, cosméticos, plantas e outros.

Cuidados básicos para reduzir riscos

O pediatra Márcio Nehab, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), ensina alguns cuidados básicos que ajudam a evitar acidentes domésticos. Confira:

Quedas – Para evitar as quedas o especialista frisa que não é aconselhável brincar e correr de meias dentro de casa. Manter móveis longe de janelas e cortinas e coloque telas nas janelas, sacadas e vãos desprotegidos, como laterais de escadas, também é importante medida contra acidentes envolvendo quedas. “Não há consenso em quando as grades de proteção podem ser retiradas, mas a maioria dos especialistas considera que 12 anos é a idade adequada”, explica Nehab. Ele destaca também a importância da escolha de berço seguro com grades de proteção para evitar acidentes com bebês. Para isso, é preciso observar se a altura da base é suficiente para evitar que a criança caia por cima das grades. Além disso, de acordo com a SBP, a distância entre as grades precisa ser de no máximo 6cm para evitar que a criança passe o ombro, mãos ou pés nos vãos. Caso as grades sejam móveis, elas devem ter sistema de travamento, e sua pintura deve ser feita com tinta atóxica.

Cortes, queimaduras e intoxicação – A cozinha é um dos lugares de maior risco para acidentes, como cortes, queimaduras e intoxicações. É preciso manter facas, garfos e objetos cortantes, como tesouras, em gavetas com travas de segurança e fora do alcance de crianças. As panelas do fogão devem estar sempre nas bocas de trás e com o cabo virado para dentro. Evite deixar fósforos, isqueiros e acendedores em cima da pia. “Importante deixar fora de alcance os medicamentos, vitaminas, antissépticos bucais e outros produtos que ofereçam perigo de intoxicação. Os materiais de limpeza devem ser armazenados em locais em que as crianças não acessem ou em lugares altos”, completa o pediatra.

Afogamentos e sufocamentos – Além do mar, rios e piscinas, os afogamentos também podem acontecer em casa, em banheiras, baldes, bacias ou mesmo em caixas d’água usadas para lazer. De acordo com levantamento da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), as crianças são as maiores vítimas de afogamento no Brasil. “O afogamento ocorre em qualquer situação em que o líquido entra em contato com as vias aéreas da pessoa em imersão (água na face) ou por submersão (abaixo da superfície do líquido). É por isso que as crianças devem sempre estar sempre acompanhadas por um adulto durante essas atividades”, conclui Nehab.

Já para evitar sufocamentos, o ideal é manter sacos plásticos longe do alcance das crianças. Além disso, evite travesseiros, lençóis dentro do berço e brinquedos que possam causar acidentes. Além do risco de sufocamento, esses objetos podem cair para fora do berço e a criança também pode cair ao tentar alcançá-los.

Fonte: Portal Fiocruz